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Amo cinema e escrever sobre ele.

25 de março de 2009

Com a boca na botija


Era a primeira semana de Jorge trabalhando como ajudante naquele supermercado, apesar de freqüentar ali desde criança. Jorge mora a cinco minutos de bicicleta dali desde que nasceu nesta cidade turística. Ele fará dezessete anos no próximo dia onze de janeiro e agora passa esse início de férias escolares trabalhando, passara de ano para o terceiro ano do segundo grau, tem uma namorada e trabalha para ajudar nas despesas de sua casa. É um garoto inteligente e dinâmico. Seu uniforme é uma camisa azul e calça preta.

Neste momento ele está no depósito, onde há enormes pilhas de caixas, de latas e garrafas de cervejas e refrigerantes. Vários outros funcionários transitam pelo depósito. Ele estava ali para pegar alguns fardos de cerveja, para repor nas prateleiras, pois nessa época a demanda é enorme. Ele vê outro garoto, um ano mais novo que ele, porém mais experiente na profissão, subir rapidamente sobre algumas caixas de papelão, jogar alguns fardos de garrafas de refrigerante a outro funcionário que as pegava e organizava numa plataforma móvel, depois descer da pilha num pulo só. Jorge fica surpreso. Quando os dois saem, Jorge também se arrisca a subir. Pisa na mesma caixa que o garoto subiu, se equilibra, sobe numa outra e quando vai subir numa terceira caixa, surge o dono do supermercado de mãos dadas com a esposa, olhando para Jorge, lhe pegando em flagrante. O dono do supermercado é careca, truculento e rabugento, na casa dos quarenta anos.

- Você sabe no que está pisando? – pergunta o dono.

Jorge está paralisado sobre as caixas, se equilibrando e tenta olhar para o que estava escrito na caixa e diz inocentemente:

- Não sei.

- Pois são polvilhos, isso é extremamente frágil, não pode subir.

Todos os outros funcionários presentes no depósito olharam para Jorge, que ficou encabulado.

- Mas outro funcionário subiu agora a pouco aqui também.

- Mas eu só estou vendo você agora aí.

Jorge olha para um lado, para o outro, como uma galinha tonta, não sabe se fica sobre as caixas, se sai de cima delas, se pula como o outro garoto...

- Toma muito cuidado rapaz, pra não perder o emprego.

- Vou indo pra casa amor. – disse a esposa do dono entediada.

- Vou te acompanhar até a porta.

Então o casal sai do depósito.

Jorge, de princípio se sentira com raiva pelo acontecido, mas depois entendera o lado do dono e se sentiu culpado. Terminou seu serviço que, apesar de Jorge sempre ter dinâmica, ele ainda não estava com muita prática naquilo, portanto levou cerca de meia hora pra levar e organizar todas as bebidas nas prateleiras. Quando terminou, se dirigiu para a sala do dono para se desculpar. Quando foi bater na porta, ela se abre e então o garoto se depara com o dono com a calça arriada, transando com uma jovem que trabalhava no caixa do supermercado. O dono fica desconcertado, colocando rapidamente sua calça, enquanto a mocinha tapava seus pequenos seios, envergonhada.

- Não sabe bater na porta, garoto? – vociferou o dono.

- Me desculpe senhor, eu só vim pra... – ele já estava saindo da sala.

- Cala a boca, entra aqui e fecha a porta.

Então a partir desse dia o salário de Jorge aumentou, seu emprego ficou estável e ele nunca contou pra ninguém sobre o segredinho do patrão.

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